Em 1954 nasceu a Cooperativa Agrícola Mista de Pedrinhas, conhecida hoje como CAP. No início, sua finalidade era funcionar como uma abastecedora dos colonos, sendo um local de consumo, onde eram vendidos gêneros alimentícios. Ainda não era cogitado o interesse daquela entidade em ser transformada em um órgão puramente cooperativista.
Em 1970, com o advento da soja e do trigo e duas lavouras completamente mecanizadas, a mentalidade foi mudada, da mesma forma que os rumos da Cooperativa de Pedrinhas e de sua diretoria. Com uma nova diretoria empossada, iniciaram-se então os trabalhos da então remodelada cooperativa.
Em 1971 o italiano Alfredo Di Nallo ocupou pela primeira vez a presidência da entidade, assumindo uma grande responsabilidade na época da transição das culturas do algodão para as de soja e trigo, visto que estas últimas necessitavam, além de técnicas avançadas, mecanização e suporte de armazenamento para o seu desenvolvimento.
Após a gestão de Alfredo Di Nallo, a cooperativa enfrentou uma grave crise financeira e para ressurgir foi necessário muito empenho e dedicação por parte de um pequeno grupo de imigrantes italianos que resolveram assumir a missão de ressuscitar a entidade,
Para falar um pouco do ressurgimento da CAP, a reportagem da Folha de Pedrinhas entrevistou os integrantes da diretoria que fizeram parte do início desta nova trajetória da entidade. Foram entrevistados Andrea Vicentini, Giovanni Di Raimo, Nicola Lecce e Franco Di Nallo.
Andrea Vicentini
Vicentini voltou para a cooperativa em 1994. “Eu não via solução para a cooperativa e tinha dó que ela fechasse. A retomada foi cansativa, um período de política econômica esquisita. Tínhamos uma moeda nova, o Real, e pegamos toda a sua fase inicial”, recorda. “O governo não apoiava a agricultura, mas foi o Banco do Brasil que salvou a cooperativa. Se ele não tivesse dado em 1994 à nova diretoria um recurso importante, a cooperativa não teria aguentado. O Banco do Brasil acreditou na nova diretoria e tivemos condições de pagar os funcionários”.
Ele frisou que a única pessoa que junto com ele avalizou com o Banco do Brasil foi Giovanni Di Raimo. Na época também faziam parte da diretoria Franco Di Nallo, Nicola Lecce e Bruno Bianco.
Nicola Lecce
Nicola participou pela primeira vez da Cooperativa de Pedrinhas a convite de Alfredo Di Nallo para fazer parte do conselho fiscal. “Mas eu não tinha tempo. Com tanto custo ele me convenceu e fiquei algum tempo. Mas depois saí porque realmente não tinha tempo. Naquela época não era como hoje, em que você colhe a soja mais rápido. Antigamente não era fácil, demorava para apanhar algodão”.
Alguns anos depois, quando as coisas não estavam bem na cooperativa, Andrea Vicentini o chamou para conversar. Estavam também Giovanni Di Raimo, Bruno Bianco e Franco Di Nallo, além de membros do conselho fiscal. “Nós chegamos a dar nossas terras em garantia. Por isso, disse que tínhamos que pensar bem no que iriamos fazer. Fizemos e graças a Deus deu tudo certo. Vieram as dificuldades e as superamos, pois os agricultores confiaram em nós. Assim a coisa começou a caminhar, mas não foi fácil”.
Ele contou que certa vez um gerente do Banco do Brasil lhe disse que se acontecesse alguma coisa com a cooperativa, todos os diretores seriam responsabilizados. “Esse gerente me alertou que o maior responsável seria eu. Mas graças a Deus deu tudo certo”.
Giovanni Di Raimo
Giovanni trabalhou por nove anos na Cooperativa de Pedrinhas e foi presidente por cinco. “Ajudei a formar a cooperativa junto com várias pessoas, mas não atuava muito quando ela passou de consumo para grãos porque tinha um irmão que trabalhava com grãos também e a família tinha que estar unida”.
Trabalhando na cooperativa, uma ocasião Alfredo Di Nallo o convidou para integrar a diretoria. “Não queria aceitar, mas ele insistiu e acabei aceitando”. Ficou dois mandatos com Alfredo como presidente antes de ele falecer. “Não queria assumir nenhum cargo, mas o pessoal me incentivou a ser presidente e aceitei”.
Franco Di Nallo
Ele disse que quem liderou a retomada foram Andrea e Giovani. “O Giovani já havia substituído o meu pai (Alfredo) quando ele morreu. Então, ele já tinha uma certa experiência e credibilidade”, conta. “As pessoas começaram a procurar o Giovanni para assumir a cooperativa. E como ele era muito amigo do Andrea, os dois escolheram pessoas para formar uma nova diretoria. E eu fui um dos escolhidos, ao lado de Nicola e Bruno”, acrescenta. Nós encaramos o desafio porque ninguém queria. No ano seguinte tentei trazer algumas pessoas, mas não quiseram porque tinham medo”.
Franco Di Nallo conta que a maior dificuldade durante a retomada da CAP foi não deixar as portas da cooperativa fossem fechadas. Contou que não havia produto armazenado, mas os maquinários poderiam ser penhorados. “Por causa dos credores, a gente viva constantemente com medo que viessem fechar os portões”.
Chegaram a ser realizadas duas ameaças neste sentido, mas a diretoria conseguiu reverter a situação. “A partir do momento que vimos que conseguimos reverter estas duas tentativas de penhora, eu pessoalmente senti uma certa firmeza de que existiria uma chance de dar continuidade à cooperativa”, relata.
Na época o Banco do Brasil deu uma ajuda muito grande à CAP. O banco fez um pré-custeio para que a cooperativa comprasse os insumos e distribuísse aos associados para que pudessem plantar.
No entanto, esse pré-custeio tinha um vencimento e a cooperativa não conseguiu honra-lo. “Muitos associados tinham o produto aqui que a administração passada tinha já vendido. Então associado ia à cooperativa, pegava os insumos e dizia que iria pagar. Mas no momento do pagamento, mandava descontar no crédito que tinha junto à cooperativa. Por isso, não conseguimos pagar o Banco do Brasil”, explica Franco.
Na verdade, o banco fez o pré-custeio no nome dos cinco diretores e não no nome da cooperativa, porque ela não tinha crédito. “Ficamos com medo de que o banco viesse em cima da gente, mas isso não aconteceu”, diz. “Em seguida tivemos a sorte de vir uma securitização dada pelo Estado. Parcelamos a dívida e ganhamos um fôlego”.
A partir daí as coisas começaram a andar. “Quando entrei na diretoria, achei que não tinha recuperação. A única pessoa que dava ânimo no início era o Andrea. Mas em um certo momento ele também achou que não dava para recuperar. Ele e o Giovanni saíram e eu fiquei à frente”, descreve. “Mas estava prestes a entrar a primeira safra e eu disse que estávamos para receber o produto. Falei para eles que se os associados começassem a ver que os diretores estavam estão saindo, não entregariam o produto. Então os dois voltaram”.
Naquele momento a credibilidade foi restaurada. “Nenhum associado deixou de nos entregar os grãos. E depois veio o sucesso”.
Com o nome da CAP totalmente restabelecido, Franco se sente muito orgulhoso pelo trabalho realizado. “Me sinto super realizado também por resgatar o nome do meu pai”, frisa. “Temos hoje 207 funcionários fixos e cerca de 80 temporários. Isso faz da Cooperativa de Pedrinhas uma grande geradora de empregos na cidade”.
Ele afirmou que a parte administrativa é primordial em qualquer empresa e foi fundamental para o ressurgimento da CAP. “E tudo isso aprendi muito com meu pai”.
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