Nesta segunda parte da entrevista, o engenheiro agrônomo e pesquisador Dirceu Gassen abordou os importantes avanços tecnológicos no campo, mas também algumas práticas que pararam no tempo. Com o passar dos anos, acredita que a agricultura apresentou evoluções desencontradas.
O pesquisador destacou a evolução extraordinária em semeadoras, colhedoras, pulverizadoras, enfim, a automatização, o tamanho e a velocidade das máquinas. “A capacidade de engenharia dos homens com relação às máquinas foi espetacular”.
Mas aponta alguns aspectos que não evoluíram, como por exemplo, a qualidade de semeadura. “Nós continuamos cortando a palha, abrindo o sulco e não fechando, do mesmo jeito que fazíamos nos anos 70, 80 e 90, quando colhíamos 35, 45 sacas por hectare. Hoje colhemos 55 e precisamos chegar nos 65/70 em 2025”, relata. “Então esse é um processo realmente muito importante: melhorar a qualidade de semeadura e considerar que cada planta é uma unidade de produção”.
Alterações na cultura
Com relação às mudanças da soja, ele entende que a tecnologia embarcada não é só resistência ao glifosato, incorporação de tecnologia Bt que controla lagartas, mas tem a ver com um ciclo mais curto, com hábito de crescimento indeterminado. “Nossa soja no passado respondia a fotoperíodo, hoje não responde mais. Não importa quando se planta, se em setembro, outubro, março ou janeiro, há variedades que florescem V5, V6, V9, V12. Então mudou o modelo de soja, que tem um ciclo mais curto”.
Ainda sobre a transformação da cultura, ele cita novamente a insistência em seguir modelos antigos. “Eu lembro do meu pai, que gostava de uma soja na ‘altura do peito’, grande, mas dava 37 sacas por hectare. Hoje estamos colhendo 60 e os bons, próximo a 90”.
Gassen reitera que a soja hoje é completamente diferente. “É uma população menor, uma área foliar ajustada para eficiência na interceptação da radiação solar”. E as mudanças também aconteceram no tocante ao manejo de doenças. “Determinadas doenças que não existiam no passado, como ferrugem, mofo branco – e hoje se manifestam com mais intensidade –, exigem muito mais eficiência”.
Por esses e outros motivos, ele reforça a necessidade da busca pela informação e pelo conhecimento. “Soja de ciclo curto com alto rendimento é para agricultor com muito mais conhecimento”, exemplifica. “A área vai continuar sendo cultivada, mas poderá trocar de mãos, passará para quem é mais eficiente. Não é só na agricultura, os outros segmentos estão na mão e estarão no domínio de quem tem mais conhecimento. Na agricultura podemos dizer que é necessário exercer a engenharia da agronomia: mede, calcula e interpreta, para tomar as decisões para gerar produtividade com renda”.
Da Redação
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