Quantas vezes as pessoas que deram sua vida continuam sendo lapidadas com a pedra mais dura que existe no mundo: a língua”, afirmou Papa Francisco
Uma delegação de cerca de 500 pessoas guiada por representantes da Igreja e do Governo de El Salvador veio ao Vaticano para agradecer ao Papa Francisco a beatificação de Dom Oscar Arnulfo Romero.
Ao recebê-los na manhã de sexta-feira (30/10), no Vaticano, o Pontífice falou do significado do martírio, recordando as palavras de Jesus contidas no Evangelho de S. João: “Se o grão de trigo que cai na terra não morrer, permanecerá só”. “A Igreja sempre teve a convicção de que o sangue dos mártires é semente de cristãos.
Sangue de um grande número de cristãos mártires que também hoje, de maneira dramática, segue sendo derramado no campo do mundo, com a esperança certa de que frutificará numa colheita abundante de santidade, de justiça, de reconciliação e de amor a Deus”, disse o Papa.
Francisco recordou, todavia, que não se nasce mártir, mas se trata de uma graça que o Senhor concede. Tampouco é uma imagem que ficou relegada ao passado: “Não, o mártir é um irmão, uma irmã que continua nos acompanhando no mistério da comunhão dos santos.” Além de Dom Romero, o Papa citou o martírio do Padre Rutilio Grande: “Todos esses irmãos são um tesouro e uma esperança para a Igreja e a para a sociedade salvadorenhas.”
Para o Pontífice, o povo de El Salvador ainda tem pela frente uma série de desafios, e segue necessitando do anúncio evangelizador. “Nesta ocasião, faço meus os sentimentos do Beato Romero, que ansiava ver a chegada do momento em que desapareceria de El Salvador a terrível tragédia do sofrimento de tantos irmãos por causa do ódio, da violência e da injustiça.”
“Que o Senhor converta El Salvador num país onde todos se sintam redimidos e irmãos, sem diferenças, porque todos somos uma só coisa em Cristo nosso Senhor”, pediu Francisco.
Língua: a pedra mais dura do mundo
Ao final, o Papa falou de improviso para recordar que o martírio de Dom Romero não foi no momento de sua morte, mas seu sofrimento foi anterior e posterior. Uma vez morto – “eu era um jovem sacerdote e ouvi” – foi difamado e caluniado inclusive por seus irmãos no sacerdócio e no episcopado. “Ou seja, é lindo vê-lo assim também: um homem que segue sendo mártir. Depois de dar a sua vida, seguiu deixando-se açoitar por todas essas incompreensões e calúnias. Isso me dá força, só Deus sabe. Somente Deus conhece as histórias das pessoas, e quantas vezes as pessoas que deram sua vida continuam sendo lapidadas com a pedra mais dura que existe no mundo: a língua.”
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